Atravessamentos Geracionais: Vivências trans
IFF/Fiocruz promove debate sobre Vivências e Atravessamentos Geracionais Trans no âmbito da comemoração dos 35 anos do PPGSCM
O Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher (PPGSCM) do Instituto Fernandes Figueira (IFF), dando continuidade a comemoração dos 35 anos do programa e dos cem anos do instituto, promoveu nesta segunda-feira (23) uma mesa de debate nomeada “Atravessamentos Geracionais: Vivências trans”, para discutir as três etapas da vida, a infância, a idade adulta e a velhice, na população trans, abordando suas particularidades e especificidades.
Paula Gaudenzi, professora e pesquisadora do PPGSCM e membro do núcleo de equidade, diversidade e políticas afirmativas do IFF/Fiocruz, iniciou o debate do começo, ou seja, falando das infâncias trans. Ela ressaltou que é fundamental garantir vida digna às crianças com experiências trans que costumam ser altamente violentadas em espaços de suposto acolhimento.
“Crianças trans são crianças como quaisquer outras. Portanto, mais importante que questionar a existência de crianças trans, é se perguntar: ‘por que essa busca incessante por generificar as crianças desde cedo? Nossa tarefa é acolher esses pequenos corpos no mundo”, disse Paula Gaudenzi.
O debate prosseguiu com a professora e pesquisadora do IFHT (Instituto Multidisciplinar de Formação Humana com Tecnologias) da UERJ, Sara Wagner York, considerada a primeira jornalista trans a ancorar no jornalismo brasileiro. Ela levantou questões quanto ao “adultocentrismo trans” e também trouxe à tona alguns dos desafios que estas pessoas enfrentam no dia a dia.
“O que é ser adulto trans de fato? Qual a minha idade trans? Devo contar a partir do momento que me entendi como Sara? Ou se dá quando o juiz aceitou meu nome social?”, questionou, completando: “Cabe a nós, nesse momento, entendermos que somos todos trans nesse mundo, somos pessoas em transição, impermanentes, em devir. Precisamos entender isso para juntos podermos caminhar”.
Por fim, a professora visitante do PPGSCM, Liliana Rodrigues, pesquisadora do Centro de Psicologia da Universidade do Porto, na linha de investigação “sexualidade e gênero”, lembrou que o Brasil é um dos países que mais mata pessoas trans no mundo.
Em 2023, entre 1 de outubro de 2022 a 30 de setembro de 2023, foram registados 320 homicídios/femicídios contra pessoas trans a nível mundial.
Com 235 casos, o contexto Latino-americano e o Caribe continuam a registar o maior número de assassinatos entre todas as regiões (TGEU, 2024).
“É fundamental refletir constantemente sobre o que fazemos, como fazemos e para que serve o que fazemos, especialmente com pessoas que desafiam a diversidade. Só as práticas de cuidado afetivas são revolucionárias e efetivamente livres para todas as pessoas”, finalizou.
O evento foi transmitido no canal do YouTube do IFF e pode ser assistido por meio do link: https://www.youtube.com/watch?v=bXKLsRFrEFQ