Bexiga Neurogênica: IFF/Fiocruz realiza reunião de pesquisa sobre sequela relacionada ao Zika Vírus


O Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) realizou, em 30/6, a 1ª Reunião de Coordenadores e Gestão do Projeto “Fortalecimento do cuidado às crianças com sequelas urológicas relacionadas à Síndrome Congênita Associada ao Vírus Zika (SCZ)”. O encontro teve o objetivo de discutir experiências, oportunidades e desafios para o fortalecimento da gestão e sustentabilidade do projeto e da rede, assim como possibilidades para implementar, no Sistema Único de Saúde (SUS) e junto ao Ministério da Saúde (MS), os produtos do projeto relacionados às normas de cuidado para crianças com sequelas urológicas secundárias ao Zika.

O projeto, financiado pelo Departamento de Ciência e Tecnologia (DECIT), do Ministério da Saúde (MS), e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), tem a finalidade de ampliar o cuidado aos pacientes com sequelas urológicas por SCVZ nas redes de atenção do SUS, propondo melhorias na assistência para mitigar o impacto da doença. “A pesquisa visa ampliar a capacidade de fazer esse diagnóstico em outras coortes de Zika no Brasil. Hoje, são seis centros capacitados para fazer esse diagnóstico, além de termos uma rede formada para discutir as sequelas urológicas. Assim, o IFF/Fiocruz ajudou a descobrir a bexiga neurogênica como sequela da SCZ em um primeiro momento. E, a seguir, entendendo seu papel como Instituto Nacional, vem ajudando, através do projeto, a equipar e capacitar novos centros para que possam replicar essa experiência, qualificar a assistência às crianças e a gerar evidências para orientar o cuidado delas no SUS. Além de tratar as crianças, os seis centros são multiplicadores do conhecimento e experiências adquiridas”, ressaltou a coordenadora da pesquisa, a pesquisadora do Ambulatório de Urodinâmica Pediátrica do IFF/Fiocruz, Lucia Monteiro.

A reunião contou com a participação do Diretor do IFF/Fiocruz, Antonio Meirelles, da Coordenadora de Ações Nacionais e de Cooperação e do Portal de Boas Práticas do IFF/Fiocruz, Maria Gomes, e da Coordenadora da Pesquisa Clínica e do Projeto Zika no IFF/Fiocruz, Maria Elizabeth Lopes Moreira, assim como dos coordenadores dos Centros Colaboradores do projeto: Grace Araújo, do Ambulatório de Urodinâmica Pediátrica - IFF/Fiocruz (RJ); Saulo Duarte Passos e Emmanuel Oliveira, do Ambulatório de Zika - Faculdade de Medicina de Jundiaí (SP); Lilian Lisboa, do Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi - Instituto Santos Dumont (RN); Hannah Guedes, do Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto IPesq (PB); Adriano Calado, do Serviço de Urologia - Hospital Universitário da Universidade de Pernambuco (PE); e Tereza Melo do Serviço de Urologia - Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (MA).

O encontro teve o objetivo de reunir os 6 centros colaboradores para discutir experiências,
oportunidades e desafios para o fortalecimento da gestão e sustentabilidade do projeto (Fotos: Everton Lima – IFF/Fiocruz)


Resultados

Ao longo dos últimos dois anos do projeto, um dos resultados celebrados na reunião foi a meta cumprida de possuir 6 centros colaboradores ligados ao SUS capacitados e equipados em 6 estados para cuidar de pacientes com sequelas urológicas relacionadas à SCVZ. Atualmente, 369 pacientes com SCZV foram avaliados, utilizando o protocolo para investigação das sequelas urológicas. Três Centros Colaboradores atuam como pontos focais nos estados de Rio Grande do Norte (RN), Pernambuco (PE) e Maranhão (MA), além da Rede de Assistência a Pacientes com SCVZ e Sequelas Urológicas e Intestinais (RASZ), com atuação nacional, implantada para aprimorar o conhecimento e a vigilância de casos de sequelas urológicas relacionadas à SCVZ.

"São muitos os desafios para desenvolver pesquisa no Brasil e para vencê-los é preciso trabalhar em rede, fortalecendo a capacidade de resposta e de gerar evidências para qualificar a assistência no SUS. Como contribuições, em cooperação com as instituições parceiras, foram publicados em revistas científicas internacionais três artigos indexados, um capítulo de livro e uma revisão de protocolo”, comemorou Lucia.

A coordenadora da pesquisa, a pesquisadora do Ambulatório de Urodinâmica Pediátrica do IFF/Fiocruz,
Lucia Monteiro (Foto: Everton Lima – IFF/Fiocruz)


O que é Bexiga Neurogênica?

Em julho de 2019, a pesquisadora explicou que a Bexiga Neurogênica é uma disfunção da bexiga causada por dano neurológico, diagnosticada através do estudo urodinâmico. “Os sintomas mais comuns são a infecção urinária e a incontinência ou a retenção urinária, que nem sempre são percebidos em crianças pequenas. Mas, o risco de complicações graves é alto (infecções recorrentes, entre outros, que podem inclusive chegar ao comprometimento dos rins). Por isso, é importante estar atento porque o diagnóstico precoce e o início oportuno do tratamento podem mitigar o impacto da doença e promover, a longo prazo, a saúde do paciente”.

Pesquisa pioneira no mundo

Desde 2015, o IFF/Fiocruz tornou-se referência na atenção a crianças expostas ao Zika durante o período de gestação. Nesse contexto, em 2016, a pesquisa foi iniciada pelo Ambulatório de Urodinâmica Pediátrica do Instituto. Em março de 2018, o grupo de pesquisadores do projeto (profissionais do IFF/Fiocruz), liderado por Lucia Monteiro, publicou um artigo no periódico internacional Plos One com resultados inéditos que confirmaram a presença de alterações que interferem no funcionamento normal da bexiga em bebês filhos de gestantes infectadas pelo vírus Zika durante a gravidez.

Foi o primeiro relato, em todo o mundo, de sequela urológica associada à condição de bebês com Síndrome da Zika Congênita. “Nós fomos os primeiros no mundo a descobrir que esses pacientes tinham bexiga neurogênica, pois temos uma vasta experiência de quase 30 anos tratando pacientes com essa disfunção miccional, o que nos ajudou a concluir que os pacientes com SCZV podem ser afetados e precisam ser investigados”, declarou Lucia.

 

 

 

 

 

 

 

 

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