IFF/Fiocruz lança 2ª edição do documento ‘COVID-19 e Saúde da Criança e do Adolescente


O Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) lança a 2ª edição do documento ‘COVID-19 e Saúde da Criança e do Adolescente’, com o objetivo de contribuir para a capacidade de análise, planejamento e tomada de decisão de gestores e profissionais de saúde na proteção e cuidado à saúde de crianças e adolescentes no Brasil. Elaborado por especialistas do Instituto, essa nova edição atualiza e amplia o escopo do documento anterior, lançado em agosto de 2020.

A nova edição inclui os aspectos clínicos e epidemiológicos da doença; as questões referentes à imunização; seu impacto no cuidado clínico e cirúrgico de condições neonatais e pediátricas em perspectiva integral – das internações ao cuidado ambulatorial e domiciliar; as limitações impostas pela pandemia nas atividades lúdicas e suas repercussões presentes e futuras na saúde mental; as desigualdades sociais e o papel das políticas públicas nesse contexto; os aspectos nutricionais e a atividade física em tempos de Covid-19; e também os desafios no campo da pesquisa para a obtenção de respostas sobre os mecanismos de transmissão, prevenção e tratamento da doença.

Para a coordenadora do Portal de Boas Práticas do IFF/Fiocruz e de Ações Nacionais e de Cooperação do Instituto, Maria Auxiliadora de S. M. Gomes, o documento é um recurso necessário e estratégico. “Encontramos força e inspiração na orientação de nossa Presidente (da Fiocruz), Nísia Trindade Lima, que, desde 2020, nos alerta: ‘A pergunta não é que mundo teremos após a pandemia, mas sim: que mundo queremos construir’”.

Atualização do documento

No início da pandemia de Covid-19, em março de 2020, o papel da criança e do adolescente na transmissibilidade da doença ainda era pouco conhecido. “A primeira edição do Documento Técnico trouxe importantes contribuições para o enfrentamento das consequências da pandemia de Covid-19 sobre a saúde de crianças e adolescentes no Brasil, alertando para um potencial impacto negativo maior do que o que vinha sendo relatado em países da Europa e América do Norte”, conta Maria Auxiliadora.

Alguns fatores foram considerados e se mantém como relevantes em relação ao maior risco de morbimortalidade de crianças e adolescente no Brasil: (a) a composição demográfica da população brasileira com alto número de crianças e adolescentes; (b) contingente de crianças com condições crônicas com controle insuficiente; (c) desafios no acesso e qualidade do cuidado na Atenção Primária à Saúde; (d) desafios no acesso e qualidade do cuidado pediátrico de maior complexidade, particularmente em tempos de grande pressão no sistema hospitalar, levando, inclusive, à desativação de leitos pediátricos; e (e) o aumento da vulnerabilidade social.

De acordo com o documento, com maior flexibilização e circulação no decorrer da pandemia, as crianças passaram a se expor mais e, de modo recente, os adolescentes passaram a constituir o grupo contemplado com a vacinação no Programa Nacional de Imunização (PNI). Ambas as condições citadas e o aparecimento recorrente de novas cepas do vírus influenciam diretamente a dinâmica da infecção nessa faixa etária. “Nesse contexto, nos aliamos ao posicionamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e reiteramos a responsabilidade de toda a sociedade no cuidado prioritário de crianças e adolescentes: ‘As crianças não são a face desta pandemia. Mas eles correm o risco de estar entre suas maiores vítimas, já que as vidas das crianças estão sendo alteradas de maneiras profundas’”, reflete Maria Auxiliadora.

Aspectos epidemiológicos da Covid-19

O documento aponta que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o continente americano é o recordista em número de casos e de mortes por Covid-19 no mundo. Até o momento, Estados Unidos e Brasil permanecem como os países mais afetados no continente americano respondendo coletivamente por 40% dos casos confirmados e 27% das mortes em todo o mundo.

No ano de 2020, de acordo com o Boletim Epidemiológico 44 - Semana Epidemiológica 53 (27/12/2020 a 2/1/2021), na faixa etária de 0 a 19 anos foram notificados 14.638 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) hospitalizados confirmados por Covid-19, o que equivale a 2,5% dos casos de SRAG por Covid-19 no país. Destes, foram notificados 1.203 óbitos por SRAG confirmados por Covid-19, o que corresponde a 0,6% dos óbitos por Covid-19 no país. Já em 2021, o Boletim Epidemiológico 78 - Semana Epidemiológica 34 (22/8 a 28/8/2021) demonstra que na faixa etária de 0 a 19 anos foram notificados 95.866 casos de SRAG hospitalizados até 28/8/2021 — correspondendo a 6,7% dos casos de SRAG hospitalizados no país. Destes, 16.246 casos foram confirmados por Covid-19 (17%).

“Vale ressaltar que até agosto de 2021, foram notificados mais casos de SRAG hospitalizados por Covid-19 na faixa etária de 0 a 19 anos que em todo o ano de 2020, entretanto, permanece correspondendo a uma parcela muito pequena dos casos totais (1,5%). Alertamos para a faixa etária de até um ano de idade, pois trata-se da faixa etária por número de anos com o maior número de casos (4.117) e óbitos (326) por SRAG confirmados por Covid-19, nos anos de 2020 e 2021”, analisa o pediatra do IFF/Fiocruz, Marcio Nehab, organizador do documento.

No que se refere à Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), temporalmente associada à Covid-19, o documento divulga que de acordo com os dados do Boletim Epidemiológico 23 - até a Semana Epidemiológica 22 (5/6/2021), foram notificados 1.010 casos confirmados em crianças e adolescentes de 0 a 19 anos, sendo que destes, 65 evoluíram para óbito (letalidade de 6,4%). Dentre os óbitos, 53,8% foram em crianças de 0 a 4 anos.

O Adoecimento por Covid-19 na Infância e Adolescência

A doença pode afetar crianças e adolescentes de todas as idades. De modo geral se apresenta de forma mais leve em crianças do que em adultos, mas casos graves e óbitos são cada vez mais relatados. “Em uma revisão sistemática recente sobre sinais e sintomas em crianças menores de 20 anos de idade com infecção documentada de SRAG pelo SARS-CoV-2, a proporção de infecções assintomáticas variou de 15 a 42%. Febre ou calafrios e tosse são os sintomas mais comumente relatados e os achados clínicos se sobrepõem aos de várias outras síndromes clínicas (por exemplo: pneumonia, bronquiolite e gastroenterite)”, explica Marcio.

O documento traz dados de um estudo recente do Reino Unido que coletou informações de saúde do público por meio de um aplicativo, descobriu que apenas 1,8% das crianças com Covid-19 ainda apresentavam sintomas 8 semanas após a infecção. “Considerando outros estudos em conjunto, há evidências consistentes de que alguns adolescentes terão sintomas persistentes após o teste positivo para SARS-CoV-2 e que os sintomas de saúde física e mental estão intimamente relacionados”, alega Nehab.

O novo coronavírus e os desafios para a pesquisa

A disseminação da pandemia pelo novo coronavírus trouxe enormes desafios a pesquisadores de todo o mundo que estão tendo que fornecer de forma muito rápida respostas sobre o mecanismo de transmissão e replicação do vírus, o que pode ser feito para prevenir e tratar a infecção, quais as repercussões desta infecção a longo prazo no organismo e qual o impacto desta pandemia na sociedade em geral. “Desde o início da pandemia, a comunidade científica tem se esforçado na busca de vacinas, medicamentos e tratamentos seguros e eficazes para a Covid-19. O desenvolvimento destes produtos envolve um complexo e longo processo que visa aperfeiçoar o conhecimento sobre a dinâmica de uma doença, quais substâncias se mostram promissoras na abordagem desta doença e qual forma de utilização se mostra segura e eficaz aos seres humanos”, comenta Maria Auxiliadora.

O documento reforça que as pesquisas em andamento buscam, além da prevenção da infecção pelo novo coronavírus, redução de mortalidade, controle de morbidades e redução do tempo de internação, sendo estes últimos um alívio para os sistemas de saúde, que ficaram sobrecarregados com o tratamento de pacientes com Covid-19 que podem permanecer internados por vários dias ou até semanas. “As vacinas têm potencial para contribuir significativamente para a prevenção de doenças graves e morte por Covid-19. No entanto, ainda durante um bom tempo será importante continuar a seguir todas as medidas recomendadas que reduzem a propagação do SARS-CoV-2, como o distanciamento social, uso de máscaras, especialmente em ambientes mal ventilados, higienização das mãos e a etiqueta respiratória, que consiste em cobrir a boca e nariz ao tossir ou espirrar com lenço descartável ou o cotovelo”, ressalta Maria Auxiliadora.

Os pesquisadores alertam para a necessidade de pesquisas específicas para a população pediátrica. “Existe a necessidade de acelerar não só o desenvolvimento de vacinas para crianças e adolescentes, de modo a garantir segurança imunológica suficiente na comunidade para o retorno de atividades escolares presenciais ou de convívio social, como, também, de realizar pesquisas multicêntricas e longitudinais específicas para este público que possibilitem avaliar a magnitude dos efeitos da pandemia na saúde física, mental e econômico-social das crianças e adolescentes. Estas pesquisas são fundamentais para que se possa ter uma melhor percepção destes impactos no curto, médio e longo prazo e, desta forma, se possa propor e implementar medidas de proteção ou de minimização destes efeitos para esta e futuras gerações do período pós-pandemia”, afirma Marcio Nehab.

Clique aqui e confira o documento na íntegra

 

 

 

 

 

 

 

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