Saúde em movimento: mulheres acima dos 30 redefinem bem-estar e longevidade através do esporte 

 

A saúde da mulher após os 30 anos é um tema que vem ganhando cada vez mais atenção na ciência, na mídia e nas políticas públicas. Com o avanço da idade, o corpo feminino passa por transformações hormonais que afetam diretamente a composição corporal, o metabolismo, a saúde óssea e o equilíbrio emocional. Em meio a essas mudanças, a prática regular de atividades físicas surge como uma ferramenta poderosa para promover bem-estar, prevenir doenças e garantir autonomia ao longo da vida. 

Referência na saúde da mulher, o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) realiza estudos e fomenta projetos de pesquisa inovadores que exploram a saúde de mulheres adultas. Coordenado pela pesquisadora Adriana Duarte Rocha e pelo pós-doutorando Marcelo Colonna, o estudo “Composição Corporal em Mulheres Praticantes de Exercícios Físicos” reúne dados sobre mulheres que praticam ciclismo, judô e outras atividades físicas, com o objetivo de compreender os efeitos do exercício sobre o corpo feminino em diferentes fases da vida.

Saúde e qualidade de vida
 

O projeto também avalia aspectos mais profundos da saúde, como ingestão de macronutrientes, perfil lipídico e até o comprimento dos telômeros — estruturas celulares ligadas ao envelhecimento. A ideia é entender como o exercício físico pode influenciar a saúde em níveis celulares e metabólicos, contribuindo para decisões clínicas e políticas públicas voltadas à saúde da mulher.  

Além disso, o estudo busca correlacionar os dados com o tempo de prática esportiva e o período reprodutivo das participantes, oferecendo uma visão mais ampla sobre como o corpo feminino responde ao exercício em diferentes fases da vida. 


Ciclismo: pedalando pela saúde e contra o sedentarismo  

O projeto, conduzido pela bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) Julie Romão Posse, analisou a composição corporal de 32 mulheres praticantes de ciclismo de rua, com idades entre 30 e 62 anos. A pesquisa utilizou métodos avançados como bioimpedância elétrica e pletismografia por deslocamento de ar para avaliar indicadores como índice de massa corporal (IMC), gordura visceral e massa muscular esquelética.  

 Ciclismo é presente na vida da Adriana e serviu de base para pesquisa 

Os resultados são expressivos: a mediana do índice de massa corporal (IMC) foi de 24,7, dentro da faixa considerada saudável; a mediana de gordura visceral foi de 6,5; e a massa muscular esquelética apresentou valores superiores aos observados em mulheres sedentárias. Esses dados indicam que o ciclismo pode contribuir significativamente para a saúde cardiovascular, metabólica e funcional das mulheres. 

“Concluímos que, na amostra estudada, a prática de ciclismo de rua esteve associada a um perfil de composição corporal mais favorável. As ciclistas apresentaram menos gordura corporal e mais massa muscular do que mulheres sedentárias”, explicou Julie.  

A pesquisadora destaca que o maior desafio foi o recrutamento das voluntárias, já que muitas ciclistas já tinham acompanhamento profissional e não queriam interromper a rotina de treinos para realizar os exames em jejum. Ainda assim, os dados obtidos são valiosos e apontam para os benefícios concretos da atividade física.  


Artes marciais: força, disciplina e longevidade 
 

Outro foco do projeto é o estudo da composição corporal em mulheres praticantes de esportes de combate, como o judô. A própria coordenadora do projeto, Adriana Duarte Rocha, é faixa preta e competidora, além de instrutora master de muay thai, ciclista e praticante de outras artes marciais.  

A prática do judô como aliada para mulheres com mais de 30 anos 

 Adriana começou a praticar lutas e ciclismo após os 40 anos e hoje, aos 56, é um exemplo de como o esporte pode impactar positivamente a saúde feminina. “Tenho exames excelentes, sem osteoporose, colesterol controlado e uma composição corporal saudável. A prática de artes marciais me ajudou a manter minha massa óssea e muscular mesmo após a menopausa”, relatou. 

Ela explica que os movimentos de impacto, como chutes e socos, estimulam a formação de osteócitos — células responsáveis pela manutenção dos ossos — contribuindo para a prevenção da osteoporose. “O esporte não é só estética. É saúde, é prevenção, é autonomia”, garantiu. 


Exemplo inspirador: Maria de Jesus, 63 anos e mais de 500 medalhas e troféus
 

Trabalhadora do Ambulatório de Nutrição do IFF/Fiocruz há 38 anos, Maria de Jesus Corrêa da Gama é atleta com uma trajetória impressionante e um grande exemplo a ser seguido. Aos 63 anos, ela pratica judô há 48 anos e já conquistou mais de 500 medalhas e troféus em diversas modalidades esportivas, como atletismo, natação, vôlei, karatê e tai chi chuan. 

“O esporte me trouxe saúde mental, equilíbrio emocional e amizades com pessoas de diferentes culturas. Já troquei mensagens e vídeos com atletas de 17 países”, contou Maria de Jesus, que recentemente conquistou uma medalha no Campeonato Brasileiro de Judô. Ela deixa uma mensagem direta para outras mulheres: “Viva com saúde, faça qualquer tipo de esporte. Ficar em casa enferruja. Seja feliz sorrindo, brincando, amando o próximo.” 

 Maria de Jesus conquistou mais de 500 medalhas e troféus 


Nunca é tarde para começar  

A mensagem das pesquisadoras e participantes é clara: não existe idade certa para começar, existe o momento de decidir cuidar de si. “Mesmo volumes menores de atividade física já trazem benefícios comprovados”, afirmou Julie. “Comece dentro das suas possibilidades e, quando possível, busque orientação profissional.” 

Adriana complementa com um conselho direto e bem-humorado: “Se você não quer ser atleta, tudo bem. Mas pratique exercícios, o esporte é autonomia, saúde e dignidade.” 

O projeto segue em expansão, com novas linhas de estudo voltadas para outras modalidades esportivas, como futebol, vôlei e musculação. A meta é ampliar o número de participantes e oferecer dados robustos que possam subsidiar políticas públicas, programas de saúde e estratégias de promoção do envelhecimento ativo. 

“Queremos mostrar que o esporte é acessível, transformador e essencial para a saúde da mulher. Não se trata de competir, mas de viver com mais qualidade, força e alegria”, concluiu Adriana.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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