Amamentação é tema de debate na Semana Científica do IFF/Fiocruz

 

A conferência “Amamentação como desafio global”, proferida pela coordenadora de Atenção à Saúde da Criança e do Adolescente do Ministério da Saúde (MS), Sonia Venâncio, ocorreu dia 3/4/24 durante a Semana Científica do Centenário do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz).

A conferencista iniciou o evento destacando a parceria que o IFF/Fiocruz possui com o Ministério da Saúde (MS) para a implementação de políticas públicas na área da saúde da mulher, da criança e do adolescente, sobretudo nas ações para proteção, promoção e apoio ao aleitamento materno.

Em seguida, apresentou evidências sobre os benefícios da amamentação. “Para as crianças, a amamentação auxilia na proteção contra infecções respiratórias, diarreias e alergias, reduz a mortalidade infantil em até 13%, reduz a chance de obesidade e diabetes e contribui para o desenvolvimento cognitivo. No caso das mulheres, reduz as chances de desenvolver câncer de mama e de ovário, fortalece o vínculo mãe-bebê, reduz os riscos de hemorragia pós-parto e as chances de desenvolver diabetes tipo 2, colesterol alto e hipertensão. Há ainda uma redução dos gastos no sistema de saúde e a não utilização de embalagens, água e energia para produção, sendo uma prática sustentável para o planeta”, pontuou Sonia.

Outro tema abordado na conferência foram as recomendações do Ministério da Saúde para a amamentação, sendo elas: a amamentação na 1° hora de vida, exclusiva até o 6° mês, e a manutenção da amamentação com alimentos complementares até os dois anos ou mais. Foram apresentadas as estatísticas de cumprimento dessas recomendações a nível global, no Brasil e as metas a serem alcançadas até 2030, utilizando dados da Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI) de 2019. “As pesquisas têm mostrado que estamos avançando na prática da amamentação no Brasil, mas ainda temos menos da metade das crianças de até seis meses em amamentação exclusiva. Precisamos avançar ainda mais”, comentou a conferencista.

Sonia salientou a importância da iniciativa Global Breastfeeding Collective, liderada pela UNICEF e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que apresenta ações estratégicas que visam o aumento das taxas de amamentação, destacando as ações realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Precisamos reconhecer que o SUS financia a implementação de ações de aleitamento materno, sendo parte de uma ação estratégica da nossa política de saúde, diferente da realidade de outros países que não possuem um sistema universal público”.

Por fim, a conferencista apresentou as grandes campanhas de comunicação e mobilização social realizadas anualmente pelo MS para a promoção do aleitamento materno, como a Campanha Nacional de Doação de Leite Humano, em maio, e a Semana Mundial da Amamentação (SMAM), em agosto.

O moderador da conferência, o coordenador da Rede Global de Bancos de Leite Humano (rBLH), João Aprígio Guerra de Almeida, deu início à mesa-redonda ressaltando alguns dos temas abordados na conferência e destacando o papel do Banco de Leite Humano (BLH) do IFF/Fiocruz, que completou 80 anos em 2023.

Ele falou ainda sobre os limites das ações para a promoção do aleitamento materno, ocasionadas principalmente por questões sociais que ultrapassam a fronteira da saúde. “A grande massa das mulheres trabalhadoras desse país é marginalizada no mercado de trabalho, não têm carteira assinada ou qualquer tipo de proteção legal. Nós, enquanto Instituto de referência da saúde da mulher, precisamos pensar políticas públicas e debater mais sobre esse tema”.

O moderador ressaltou o valor da busca pela autossuficiência em leite humano, liderada pelo Brasil, sendo Brasília a única cidade autossuficiente no mundo. João lembrou ainda que o Dia Mundial da Doação de Leite Humano (19/5) é uma proposta brasileira, nascida no IFF/Fiocruz.

Na sequência, a pediatra do BLH do IFF/Fiocruz, Marlene Roque, reforçou a importância de toda a sociedade unir esforços em prol da amamentação. “O aleitamento tem que ser benquisto pela sociedade, é sociocultural essa mudança. Não adianta somente a mulher querer, os empregadores e a sociedade como um todo têm que querer amamentar. Se nós não tivermos esse movimento, não vamos conseguir aumentar os nossos índices de amamentação”.

Para a obstetra e membro do Comitê de Aleitamento Materno do IFF/Fiocruz, Augusta Assumpção, o Instituto tem realizado um trabalho importante para transmitir conhecimento acerca dos direitos das mulheres que amamentam. “O curso de Aleitamento Materno da Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) promovido pelo IFF/Fiocruz é diferenciado porque trazemos informações de direitos para as mulheres gestantes e puérperas. A proteção da mãe trabalhadora, em especial mulheres em situação de vulnerabilidade que têm dificuldades de acesso à creche, é um grande desafio”.

A seguir, a enfermeira pediátrica do BLH do IFF/Fiocruz, Maíra Domingues, explicou sobre a missão desempenhada pelo BLH para a promoção de saúde pública. “Desempenhamos um papel fundamental na saúde pública materna e infantil, sendo um modelo que é centrado no segmento preventivo, atuando na prevenção de agravos, mas também no segmento de alta complexidade. Disponibilizamos o leite humano com a segurança e a qualidade certificada, mas também prestamos assistência clínica a tantas mulheres, crianças e famílias que precisam de ajuda no percorrer de todo o processo de amamentação. Prestamos assistência clínica a crianças que têm uma maior vulnerabilidade para desfechos negativos, que têm singularidades e requerem medidas específicas do manejo de aleitamento materno, além de maior esforço e compreensão de como a gente pode enfrentar as consequências dessas hospitalizações que são prolongadas”.

A fonoaudióloga do IFF/Fiocruz, Mariângela Bartha, compartilhou suas experiências na UTI Neonatal do Instituto, explicando o trabalho desenvolvido para fomentar a amamentação. “Nós somos referência para risco fetal, então temos crianças que têm as habilidades motoras orais prejudicadas em função de diferentes patologias, que dificultam o momento da alimentação. O desafio é voltado para a questão da prematuridade, para o desenvolvimento da sucção e das habilidades sensório-motoras orais. Temos trabalhado muito com a capacitação de estagiários, com as equipes de residência multiprofissionais e com cursos voltados para o SUS e para o público em geral”.

O evento foi encerrado com uma fala de agradecimento da conferencista Sonia Venâncio aos trabalhadores do Instituto. “Vocês são o IFF/Fiocruz, parabéns pelo trabalho e obrigada por promoverem as ações de aleitamento materno. Contamos com vocês para seguirmos avançando nos índices de amamentação”.

Da esquerda para a direita: João Aprígio, Augusta Assumpção, Sonia Venâncio, Marlene Roque, Mariangela Bartha e Maíra Domingues

Sobre a Semana Científica

No contexto do Centenário do Instituto, a Semana Científica, realizada de 2 a 4/4, teve como objetivo discutir temas relevantes à saúde e ao cuidado de mulheres, crianças e adolescentes. Foi organizada pelo Núcleo Diretor do IFF/Fiocruz e financiada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e Academia Nacional de Medicina (ANM). A Semana contou com uma agenda repleta de conferências e mesas-redondas, que abordaram temas fundamentais para profissionais e estudantes, sendo uma oportunidade valiosa de discutir os tópicos trazidos pelos experientes conferencistas e a busca de soluções para os desafios expostos.

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